Religião

O CÓDIGO DA CEIA

Pe. João Luiz Palata Viola, OSB


por Canal Dez
21/03/2024 às 08:16 Fernandópolis
O CÓDIGO DA CEIA

Pe. João Luiz Palata Viola, OSB

Na “Santa Ceia”, e nas diversas iconografias feitas dentro da história da arte para
representar os passos da Paixão de Cristo, os Apóstolos ocupam um lugar especial;
diante da cruz porém, o grupo se resume na pessoa do “discípulo amado”. Junto de seus
amigos, em sua última refeição, após lhes ter lavado os pés, Jesus pergunta: “Entendeis
o que vos fiz? Dei-vos o exemplo, para que também vós façais assim como eu vos fiz.
Sabendo isso sereis felizes se o praticardes. Eu conheço aqueles que escolhi.” (cf. Jo
13,12-18). Cada pessoa humana é chamada para participar da alegria da Salvação,
assim, “ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o
encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e,
desta forma, o rumo decisivo” (Bento XVI, Deus caritas est, 1).
A Igreja, fundada na oração e na pregação dos Apóstolos, na vivência da
verdadeira felicidade, na autoridade que lhes foi conferida pelo próprio Cristo é
promotora principal da verdadeira amizade social. Eles viveram com Jesus, ouviram as
suas palavras, compartilharam a sua vida, sobretudo foram testemunhas da sua Morte e
Ressureição. (cf. Papa Francisco, Audiência geral 16 de outubro de 2013) Como filhos
junto do pai, ao redor da mesa pascal, cada um dos doze, na Igreja, Esposa do Cordeiro,
ocupam no banquete do Reino dos Céus os lugares e moradas que o Mestre lhes
preparou. Junto deles se encontram também os membros do corpo de Cristo, homens e
mulheres de todas as raças, povos, línguas e nações, que através de sua pregação e da
adesão a Deus, formam um edifício bem unido.
Comprometidos com o anúncio do Evangelho, os cristãos, conduzidos pelo
Espírito de Jesus ressuscitado, desde as primeiras comunidades, tendo como “ponto de
partida, em suas atitudes e relacionamentos sociais, o reconhecimento fundamental de
quanto vale um ser humano, sempre e em qualquer circunstância”, (cf. Papa Francisco,
Fratelli Tutti, n. 106) testemunharam e promoveram no percurso da História a
verdadeira fraternidade. Já no texto da Didaqué, também chamado Instrução dos doze
apóstolos, escrito por volta dos fins do século I da nossa era, se lê no capítulo I aquilo
que ainda hoje deve nortear quem busca a paz e a felicidade: “existem dois caminhos:
um é o caminho da vida, e o outro da morte. A diferença entre os dois é grande. O
caminho da vida é este: Em primeiro lugar, ame a Deus, que criou você. Em segundo
lugar, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça a outro nada daquilo que você não
quer que façam a você” (Didaqué, I).
“Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8). Neste versículo do Evangelho de
Mateus a Igreja no Brasil encontra o lema da Campanha da Fraternidade de 2024
propondo um caminho de amizade e “amor social traduzidos em atos de caridade que
criam instituições mais sadias e estruturas mais solidárias”. Nossa fé nos recorda de que
somos todos possuidores da mesma dignidade, o que nos dá uma igualdade
fundamental, uma vez que “dotados de alma racional e criados à imagem de Deus, todos
temos a mesma natureza e origem; e remidos por Cristo, todos temos a mesma vocação
e destino.” (cf. Texto Base CF 2024, n.21. n.24.). Partindo da boa convivência com
nossa vida interior, cultivemos relações de verdadeira amizade, inspiradas no código da
Ceia, cuja fonte é o próprio Deus e nunca se esgota no seu amor pela humanidade.